Um Passat? Topei. Afinal, pensei, é um carro alemão, sinal de boa qualidade.
- OK, pode ser..., respondi
- Pode? Bacana! Pega a chave aí no pára-brisa, falou o instrutor
Fiquei olhando para o vidro esperando achar algo que se assemelhasse a uma chave. Nada.
- A chave não tá aqui..., murmurei
- Como não? Tá aqui, ó!
Olhei para a tal chave. De boa, era uma caixa de fósforos preta! Fiquei olhando para o objeto em minhas mãos e pensei como aquilo daria a ignição do motor. Então abri a porta do motorista, sentei no banco e olhei para o painel, que mais parecia a cabine de um avião.
- Porra...
Perdido no meio de tantos botões, procurei pela fechadura (assim que se fala?). Já estava quase desistindo quando a porta do passageiro abriu e adentrou no veículo um cara de macacão e de capacete. Ele abriu a viseira e falou, pegando na minha mão.
- É aqui!
Ele enfiou a “chave” num buraco ao lado do volante. Ao fazer isso o carro deu partida automaticamente e deu aquela (ui!) vibradinha.
- Porra...
Logo em seguida o piloto puxou a "chave". E perguntou:
- Percebi que você não está acostumado com carro de luxo...
Concordei com a cabeça.
- Que carro você tem?
Respondi com um muxoxo: "Um Celtinha...".
Juro que vi um sorriso irônico do cara, mesmo com ele usando aquele capacete.
O cara era um piloto de Fórmula 3. Ele começou a me falar da potência do Passat, do motor, do câmbio dele, e tudo o que eu ouvia era um blá, blá, blá. Manja quando a professora do Charlie Brown fala com a sala de aula? A mesma coisa.
Daí ele começou a me mostrar umas veadices do carro. O banco esquenta, tem um sistema que faz massagens na região lombar (?), dá para escolher a iluminação que ficará no seu pé (??) e até regular a temperatura do motorista e do passageiro ao lado. O preço de tudo isso? Um carro de R$ 160 mil.
Acho que ele notou a minha indiferença a isso (não ao valor do automóvel, pois isso me deixou com cagaça) e fez sinal para que eu ligasse o carro. Apertei a chave até o fundo e o carro fez aquele som bonito: "Vruuuum!".
Não sou muito familiarizado com câmbio automático, mas acreditei que o "D" deveria ser de "Drive", e era. Fui saindo de Box devagarinho, pois ao meu lado passavam alguns engraçadinhos com tudo e me borrei só de pensar em raspar o Passat de R$ 160 mil.
Sair dos boxes e cair na "Curva do Senna" foi emocionante. É bem estranho, pois você vê todo o horizonte e de repente cai com tudo. Como o câmbio era automático não me preocupei em desacelerar muito e tentei fazer a curva rapidamente, contornando ela. Como se estivesse dirigindo na rua.
Senti meu corpo sendo jogado para o lado, com uma força absurda no meu pescoço. Se tivesse alguém no banco de trás, sem cinto, com certeza esse alguém daria com a cara no vidro. Daí eu me lembrei de uma palavra que sempre escuto quando assisto uma corrida: tangente.
No autódromo, devido à imensa velocidade o desafio é tentar fazer a curva da forma mais reta possível. Você entra com o carro "comendo a zebra" e abre, indo parar no outro lado da pista. É muito legal e difícil ao mesmo tempo. Foi, de longe, o mais bacana de dirigir numa pista de corrida.
Pegando a tangente, você entra numa curva a 80 km/h e não sente nada. Agora imagine isso em um carro de Fórmula 1, que faz isso a mais de 200 km/h?
Na primeira volta o instrutor foi me falando para fazer um trajeto específico. Entra aqui, abre, espalha na curva, “belisca” a zebra. É complicado, mas também gostoso e desafiador. Na segunda e na terceira volta eu fui com o câmbio manual, mudando as marchas no próprio volante - o tal câmbio borboleta.
Reduzir de marcha para entrar numa curva e depois acelerar para retomá-la é algo sensacional. Corri com o vidro aberto, então além do vento na minha cara também ouvia o ronco do motor berrando a cada arrancada. Do ca-ce-te!
Na reta oposta dos boxes eu atingi 180 km/h, bem acima do permitido. Emocionante. E é impossível não passar pelo grid de largada e soltar um "Pan, pan, pan".
Passou tudo muito rápido e não tremi ou passei nervoso. Eu não sou um grande fã de Fórmula 1, mas o Circuito de Interlagos é algo que quase todo brasileiro sabe de cor. Conforme eu ia dirigindo, minha mente ficava narrando: "Agora eu estou passando pelo 'Laranjinha', olha aqui o tal 'Mergulho'".
Sai com outra idéia do que é automobilismo. Apesar de ainda não considerá-lo um esporte (desculpa, mas de nada adianta ser o melhor piloto se você tem o pior carro), vi a dificuldade que é dirigir numa pista de corrida. De boa: quem acha que consegue andar em um autódromo só porque sabe recortar na estrada vai quebrar a cara.
É necessário uma habilidade tremenda e, mais do que isso, muita estratégia. Saber o lugar certo para cortar caminho e ganhar tempo, testar o seu limite a cada curva...
Foi muito bom.
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