Estava vendo na tevê algumas cenas do Criança Esperança, que aconteceu no final de semana passada. Pelo pouco que eu pude ver, destaco a participação do Natiruts. Primeiro, pelo espetáculo visual, já que a Globo criou para a apresentação da banda um efeito especial de gosto duvidoso: o público virou um mar, tipo daqueles que os carnavalescos adoram fazer, manja? Bizarro.
Depois eu destaco o playback tosco do vocalista Alexandre, que mal abriu a boca para fingir que estava cantando e, quando resolvia abri-la, cantava no tempo errado. Por final, cito o baterista. Gente, a maior sacanagem para um baterista é tocar playback. Para quem toca instrumento de corda, como guitarra ou contrabaixo, é só dedilhar, sei lá. Ninguém fica reparando e reclamando: "Ei, cadê o cabo ligado na caixa de som?".
Com o baterista, não. O cara tem de ficar em pé para tocar apenas uma caixa e um prato, que é o que acontece na maioria das vezes. É doloroso de se ver. No caso do batera do Natiruts, até que ele se saiu bem, dando uma reboladinha ao ritmo da música. Menos sorte teve Clééééston, percussionista do Detonautas, que teve de se virar com um mísero pandeiro meia-lua.
A turma foi separada em grupos pela professora e cada um deles tinha de pensar em algo que durasse até 10 minutos. Eu me ferrei na hora da divisão, pois cai com o moleque mais mala de todos: o Renan. O Renan era um gordinho metido a besta que se achava gostoso só porque tocava guitarra e tirava notas altas. Além do mais, ele se achava bom entendedor de futebol e Oasis, dois assuntos que eu também adorava.
Ficou combinado que a gente iria "tocar" e "cantar" duas músicas: Televisão e Pra Dizer Adeus. Além do mais, todos teríamos de estar caracterizados. Eu, no caso, tive de comprar uma camiseta pólo listrada e usar um óculo escuro e um boné virado para trás. Resumindo: eu era o Joselito.
No dia da tal apresentação, meus pais felizmente não compareceram, mas o anfiteatro estava lotaaaaado. Meu grupo seria o terceiro da tarde, antes de uma menina, cujo nome me fugiu agora, que faria o Xou da Xuxa. Estávamos lá, atrás do palco, e o Renan chegou com os instrumentos. Ele deu o teclado para mim e disse que já voltava, porque iria passar o esquema do jogo de luz para o tio que fazia a iluminação do palco (falei que ele se achava).
Todos nos posicionamos, cada um com seu instrumento. O Renan pegou um violão e um banquinho e sentou na frente de todos nós. Eu tinha sido jogado quase para trás da cortina. Ele pegou o microfone e anunciou para a platéia: "Olá, boa tarde! Eu vou cantar Ideologia, do Cazuza".
Ficamos pasmos. Um olhou para a cara do outro, sem saber o que significa aquilo. Aí o Renan ajeitou a viola contra sua barriga, tocou uns acordes e cantaralou: "Meu partido é um coração partido...". Assim mesmo. E nós nove, ali ao fundo, não sabíamos o que fazer. Daí eu levantei os ombros, como se falasse "foda-se", e comecei a espancar o teclado à
Depois ele tocou Pais e Filhos e em nenhum momento olhou para trás de seus ombros, como se nos ignorasse. A platéia não parecia se importar. Pais empunhavam suas filmadoras, as mães balançavam as cabeças e a professora Berta tinha os olhos brilhando. Tudo porque o Renan era foda.
O show acabou, a gente largou os instrumentos no palco e todo mundo - menos a gente - foi cumprimentá-lo. Lembro do irmão do Renan chegar e falar: "Onde você arranjou aquele tecladista?!".
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