Um verdadeiro vencedor
Meu irmão sempre foi melhor esportista do que eu. Mal ele aprendeu a andar e já estava trajando um kimono, derrubando garotinhos nos tatames do interior paulista. Sua prateleira tinha troféus, seu armário era lotado de medalhas - havia, inclusive, aquela famosa pasta de recortes feita pelas mães fãs número 1, com manchetes de jornais e fotos de premiação. E ficava na casa de vovó, tomando Toddy na mamadeira e assistindo Kobi no Glub-Glub.
Eu também queria ganhar uma medalha, mas só para exibir no meu quarto, tal qual meu mano. Uma vez, em um torneio bobo realizado na própria academia de judô, ganhei uma medalhinha de prata simbólica pelo o meu esforço. Foi mais que suficiente. Um mês depois eu não queria mais saber de ficar me agarrando com moleques mais pesados do que eu.
Daí eu fui para o futebol, para desespero de mamãe, infeliz com a minha escolha. Como o Romário, nunca fui de treinar e sim de jogar. Por isso eu nunca era escalado no time titular, por birra do treinador. Só entrava para fazer número. O máximo que eu consegui foi dando um pontapé no adversário. Ganhei um cartão amarelo, algo raro entre jogos de crianças de 10 anos.
Mas meu ápice foi em um aniversário de um filho de um amigão de papai. O garoto era tão mimado que seu progenitor fez a sua festa em uma chácara que tinha um campinho de futebol e tudo. Tinha tanto moleque lá que houve um mini-campeonato de futebol, com direito a troféu e medalhas. O aniversariante estava no meu time e o juiz era o meu pai. Ou seja, não tínhamos como perder.
E fomos ganhando partida após partida. Eu era o caçula do time, ficava na lateral-direita, guardando posição. Até um poste tinha maior mobilidade que a minha. Fomos para a final após um jogo duríssimo e muito contestado pelo outro time (meu pai não deu um gol legítimo, que batera no travessão e entrara).
Na última partida, decisão por pênaltis. Eram três batedores de cada lado, e era óbvio que eu desperdicei a minha cobrança. Devia estar no "Hall da Fama", por ter sido o único cara do mundo a cobrar um pênalti para a lateral do campo. Fomos campeões mesmo assim, graças a meu irmão, que defendera o último penal (sim, ele era o goleiro). O aniversariante, capitão da equipe, levantou o troféu e fizemos a festa. Mas com quem ficaria o troféu, afinal?
Óbvio, que por ser uma brincadeira infantil, ninguém quis brigar por isso. Quando o pai do aniversariante já estava levando a taça para dentro da casa, algo tomou conta de mim para gritar: "Ei! Eu quero o troféu!". E todos olharam para mim, mas eu nem dei bola. Peguei aquele pedaço de latão e enfiei debaixo do braço. Não deixei ninguém tocar nele até o fim da festa.
Hoje ele está guardadinho, em meu armário. Meu primeiro e único troféu. Digo com orgulho que sou campeão de futebol da primeira edição da Taça Rafael Singh.
Meu irmão sempre foi melhor esportista do que eu. Mal ele aprendeu a andar e já estava trajando um kimono, derrubando garotinhos nos tatames do interior paulista. Sua prateleira tinha troféus, seu armário era lotado de medalhas - havia, inclusive, aquela famosa pasta de recortes feita pelas mães fãs número 1, com manchetes de jornais e fotos de premiação. E ficava na casa de vovó, tomando Toddy na mamadeira e assistindo Kobi no Glub-Glub.
Eu também queria ganhar uma medalha, mas só para exibir no meu quarto, tal qual meu mano. Uma vez, em um torneio bobo realizado na própria academia de judô, ganhei uma medalhinha de prata simbólica pelo o meu esforço. Foi mais que suficiente. Um mês depois eu não queria mais saber de ficar me agarrando com moleques mais pesados do que eu.
Daí eu fui para o futebol, para desespero de mamãe, infeliz com a minha escolha. Como o Romário, nunca fui de treinar e sim de jogar. Por isso eu nunca era escalado no time titular, por birra do treinador. Só entrava para fazer número. O máximo que eu consegui foi dando um pontapé no adversário. Ganhei um cartão amarelo, algo raro entre jogos de crianças de 10 anos.
Mas meu ápice foi em um aniversário de um filho de um amigão de papai. O garoto era tão mimado que seu progenitor fez a sua festa em uma chácara que tinha um campinho de futebol e tudo. Tinha tanto moleque lá que houve um mini-campeonato de futebol, com direito a troféu e medalhas. O aniversariante estava no meu time e o juiz era o meu pai. Ou seja, não tínhamos como perder.
E fomos ganhando partida após partida. Eu era o caçula do time, ficava na lateral-direita, guardando posição. Até um poste tinha maior mobilidade que a minha. Fomos para a final após um jogo duríssimo e muito contestado pelo outro time (meu pai não deu um gol legítimo, que batera no travessão e entrara).
Na última partida, decisão por pênaltis. Eram três batedores de cada lado, e era óbvio que eu desperdicei a minha cobrança. Devia estar no "Hall da Fama", por ter sido o único cara do mundo a cobrar um pênalti para a lateral do campo. Fomos campeões mesmo assim, graças a meu irmão, que defendera o último penal (sim, ele era o goleiro). O aniversariante, capitão da equipe, levantou o troféu e fizemos a festa. Mas com quem ficaria o troféu, afinal?
Óbvio, que por ser uma brincadeira infantil, ninguém quis brigar por isso. Quando o pai do aniversariante já estava levando a taça para dentro da casa, algo tomou conta de mim para gritar: "Ei! Eu quero o troféu!". E todos olharam para mim, mas eu nem dei bola. Peguei aquele pedaço de latão e enfiei debaixo do braço. Não deixei ninguém tocar nele até o fim da festa.
Hoje ele está guardadinho, em meu armário. Meu primeiro e único troféu. Digo com orgulho que sou campeão de futebol da primeira edição da Taça Rafael Singh.
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