21 de jul. de 2005

"Vai quebrar!"


Com muito orgulho e quase caindo aos prantos, digo-lhes que terminei a Fisioterapia. Após longas e intermináveis dez sessões, o meu tornozelo não está mais uma bisnaguinha. Foram duas semanas de muita paciência e conversa fora. Chega de ultra-som e choquinhos! Não quero mais saber de ficar com gelo no machucado por 20 minutos! Pular na cama elástica e jogar uma bola de tênis na parede, nunca mais!

Apesar de tudo, dava para se divertir a cada sessão. Por mais azarado que você se julgue, sempre haverá alguém mais estropiado ao seu lado. Sério! Isso é até lei. O pior é que os pacientes adoram contar sobre seus casos, e exibem com orgulho os membros inchados ou pós-operados. Rola até uma competição quando um operado encontra um outro operado.

- Vixi, mano! Operou o joelho, é?
- Pois é, foi jogando bola.
- Isso não é nada, eu operei os dois joelhos, ó!
- O meu irmão operou os joelhos e o tornozelo!
- O Zé, vizinho do amigo da prima da minha cunhada, caiu duma ribanceira, quebrou a tíbia, perônio, o úmero, operou os dois joelhos, quebrou três costelas, e deslocou a clavícula!

Alguns já se julgam doutores, inclusive, apenas olhando as cicatrizes nos joelhos dos pacientes:

- Aquele ali foi ligamento cruzado, o outro fez artroscopia...

Os mais idosos, recuperando-se de alguma queda no box do banheiro ou apenas "recalibrando as juntas", não me deixavam em paz. Um tiozinho, bastou saber que eu era são-paulino, ficava horas e mais horas conversando comigo sobre como o futebol de hoje não é digno dos tempos de Zizinho, Vavá e Canhoteiro. Retribuía o papo com um sorriso amarelo, enquanto punha rapidamente os meus fones de ouvido. E quem disse que ele parava de falar?

Por eu ser um dos únicos a não ter entrado na faca, sempre fui o mais zoado a cada sessão feita. Enquanto eu puxava e virava o meu tornozelo com algumas fitas elásticas, vinha sempre uma voz atrás de mim: "Ih, esse aí volta daqui um mês" ou "Vai quebrar, ó, vai quebrar!". Morria de medo, e logo depois escutava a risada geral. Retrucava rapidamente:

- Ao menos eu termino essa porcaria semana que vem, e vocês em dezembro!

Era um sarro. Ontem, assim que fui embora, dei um "até logo" e fui-me embora. Ainda consegui ouvir algumas gargalhadas assim que cruzei a porta de saída. Para me garantir, não tive dúvidas: voltei dois passos e bati três vezes na porta de madeira.

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