Te pego na saída
Se tu foste criança, meninote, lá pelos oito ou dez anos, com certeza já ouviu: "Te pego na saída!". As causas para tal frase eram várias. Roubo, xingo à mãe alheia, mexer com a irmã mais nova do valentão da sala, rixa de futebol... Enfim, coisas de guri brejeiros e arruaceiros.
Os mais velhos dizem que só se torna um homem após a primeira briga. Eu, até hoje, só briguei com uma pessoa: o meu irmão. Foram paus homéricos, verdadeiros arranca-rabos. Já quebrei três dedos dele; uma vez chegamos a derrubar a televisão de estimação de meu pai. Ficou puto e apanhamos de cinta. Baita amor fraternal.
Na escola, eu recordo da quinta-série. Bruno era o nome do sujeito. O sujeito era burro como uma porta, mas zoava de mim por não saber falar inglês (o pai dele era piloto da Varig, e o Bruno viajava sempre pra Disney). Xingo daqui, ameaça de lá, até que ele me chamou de "tonhão". Não gostei, e fui muito maldoso: "E você é disléxico! Sua mãe contou pra minha! Disléxico!".
Eu nem sabia o que era dislexia, mas sabia que era uma palavra feia. O Bruno ficou uma fera, e chamou o Marcos para bater em mim. O Marcos era um magrelo vara-tripa, que só por ser bom de bola, achava-se o rei do pedaço. Veio tirar satisfações comigo, empurrou-me em direção à parede. Com o indicador em riste, dizia que ia me esmurrar. Não sabendo o que fazer, xinguei-o de epilético. A Juliana, loira carioca de quem eu gostava, deu risada. O Marcos não gostou, e disse a famigerada: "Te pego na saída".
Também não imaginava o que fosse epilepsia. Li uma vez em um livro de mamãe e achei engraçado. Acabei não o vendo na saída, pois a mãe dele era paciente da minha. Quando ele veio me "quebrar", nossas matriarcas trocavam figurinhas do lado de fora da escola. Escapei por pouco.
Há duas semanas, eu me senti de volta à quinta-série. Mandei um scrap para uma garota que não via há muito tempo. "Oi, como anda sua vida?", coisas assim. A menina morava perto de casa, e nunca deu certo de nos vermos (eu sempre fui frouxo, mas isso fica para outro post). Deixei um abraço e esperava uma resposta - o que aconteceu. Ela me reconheceu, perguntou como estava, e disse que ria de nossos "encontros falhos". Beleza, ficou nessa. Coisas que só o Orkut faz às nossas vidas, não é mesmo?
No dia seguinte, ao entrar em minhas mensagens, noto que o scrap dela sumira. Cliquei no profile dela e meu scrap também desapareceu. Estranho. Eis que leio uma mensagem no espaço que eu escrevera anteriormente: "VIU O GUSTAVO TROXA.. VEM FAZE UMA VISITINHA PRA MIM... IMBECIL.. VEM AKE PRA CONVERSA COMIGO... TROXA.. PRESTA ATENÇAO O IDIOTA... MEXEU COM O CARA ERRADO....ESPERE".
A "ameaça de morte" é do namorado da guria, o Maurinho. O Maurinho é um sujeito gordo, que paga de lutador de jiu-jitsu. Seu hobby é apagar mensagens enviadas por amigos à sua namorada. Ele sempre responde, pagando uma de namorado ciumento. No mínimo deve ser broxa - além de ter um português impecável.
Estou seriamente pensando em responder uma mensagem para o rapazote. Tenho um pouco de medo, pois ele tem uma índia tatuada no ombro e é fortinho - leia-se, gordo. Mandarei um scrap, vou provar que não fujo da raia, mostrar que meus bagos são roxos...
Os mais velhos dizem que só se torna um homem após a primeira briga. Eu, até hoje, só briguei com uma pessoa: o meu irmão. Foram paus homéricos, verdadeiros arranca-rabos. Já quebrei três dedos dele; uma vez chegamos a derrubar a televisão de estimação de meu pai. Ficou puto e apanhamos de cinta. Baita amor fraternal.
Na escola, eu recordo da quinta-série. Bruno era o nome do sujeito. O sujeito era burro como uma porta, mas zoava de mim por não saber falar inglês (o pai dele era piloto da Varig, e o Bruno viajava sempre pra Disney). Xingo daqui, ameaça de lá, até que ele me chamou de "tonhão". Não gostei, e fui muito maldoso: "E você é disléxico! Sua mãe contou pra minha! Disléxico!".
Eu nem sabia o que era dislexia, mas sabia que era uma palavra feia. O Bruno ficou uma fera, e chamou o Marcos para bater em mim. O Marcos era um magrelo vara-tripa, que só por ser bom de bola, achava-se o rei do pedaço. Veio tirar satisfações comigo, empurrou-me em direção à parede. Com o indicador em riste, dizia que ia me esmurrar. Não sabendo o que fazer, xinguei-o de epilético. A Juliana, loira carioca de quem eu gostava, deu risada. O Marcos não gostou, e disse a famigerada: "Te pego na saída".
Também não imaginava o que fosse epilepsia. Li uma vez em um livro de mamãe e achei engraçado. Acabei não o vendo na saída, pois a mãe dele era paciente da minha. Quando ele veio me "quebrar", nossas matriarcas trocavam figurinhas do lado de fora da escola. Escapei por pouco.
Há duas semanas, eu me senti de volta à quinta-série. Mandei um scrap para uma garota que não via há muito tempo. "Oi, como anda sua vida?", coisas assim. A menina morava perto de casa, e nunca deu certo de nos vermos (eu sempre fui frouxo, mas isso fica para outro post). Deixei um abraço e esperava uma resposta - o que aconteceu. Ela me reconheceu, perguntou como estava, e disse que ria de nossos "encontros falhos". Beleza, ficou nessa. Coisas que só o Orkut faz às nossas vidas, não é mesmo?
No dia seguinte, ao entrar em minhas mensagens, noto que o scrap dela sumira. Cliquei no profile dela e meu scrap também desapareceu. Estranho. Eis que leio uma mensagem no espaço que eu escrevera anteriormente: "VIU O GUSTAVO TROXA.. VEM FAZE UMA VISITINHA PRA MIM... IMBECIL.. VEM AKE PRA CONVERSA COMIGO... TROXA.. PRESTA ATENÇAO O IDIOTA... MEXEU COM O CARA ERRADO....ESPERE".
A "ameaça de morte" é do namorado da guria, o Maurinho. O Maurinho é um sujeito gordo, que paga de lutador de jiu-jitsu. Seu hobby é apagar mensagens enviadas por amigos à sua namorada. Ele sempre responde, pagando uma de namorado ciumento. No mínimo deve ser broxa - além de ter um português impecável.
Estou seriamente pensando em responder uma mensagem para o rapazote. Tenho um pouco de medo, pois ele tem uma índia tatuada no ombro e é fortinho - leia-se, gordo. Mandarei um scrap, vou provar que não fujo da raia, mostrar que meus bagos são roxos...
Vou xingá-lo de disléxico e epilético!
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