Sorocaba, 20 de janeiro de 2005
- Gustavo, pode entrar.
Três segundos e já ouço do dentista:
- Que raios é este diskman em suas mãos?
Respondo:
- Ah, nem a pau que vou ouvir tu serrar os meus dentes!
Ele ri:
- Gente, vou até anotar isso. Nunca vi alguém fazer essa coisa!
Pois é, amigos leitores. Eu levei um diskman para a poltrona do dentista. Pensei nisso enquanto tentava dormir. "Pô, genial!". Escolhi um CD com trilhas sonoras orquestradas. Algo bem relaxante. Percebo que o Jango só ri, não acreditando em seu paciente, todo nervoso, ouvindo música.
Recebo as primeiras aplicações de anestesia. Duas ampolas cheias, que maravilha (foram oito no total). "Quando você não sentir o seu queixo é que ela pegou", ouço. Uns dez minutos depois eu toco a minha boca. Não sinto nada. Passa pela minha cabeça colocar um piercing no lábio (sei lá o motivo). Ele anuncia: "Vamos começar".
Enquanto ele pede para eu abrir a boca, aperto o play do aparelho. O som é aquela linda entrada de piano de Central do Brasil. Fecho os olhos e imagino o Josué de mãos dadas com a Fernanda Montenegro, que tenta dar uma cantada no caminhoneiro. Enquanto minha gengiva é aberta, parece que estou em outra dimensão (olha a anestesia dando uns baratos!).
Não ouço nenhum som externo, apenas a música. Duas faixas depois vêm um barulho de arrepiar. "Tsuiiiin". Abro o olho-direito e só vejo uns pontinhos de sangue no avental do Jango. Sai uma pequena fumaça, que medo! Em um "momento Tarantino", algumas esguichadas de meu sangue jorram nas lentes dos óculos do dentista. Sensacional é a trilha que envolve o meu primeiro siso a ser extraído: aquela musiquinha do E.T, a da famosa cena da bicicleta e da lua. Estou lá, deitado e sangrando às pampas, e aquela música tão amorosa...
Com um tipo de alicate ele me mostra o objeto. "Vai ter rabo assim no inferno! Olha o tamanho da porra!". É genial ter um dentista com um linguajar tão coloquial. Vejo uma coisinha pequena, branca, envolta de sangue. Sinto um carinho pelo meu dente, algo maternal, sabe? O segundo siso arrancado, apesar de todas as complicações em torno dele, não era tão bonito quanto (também ele foi quebrado em trocentos pedaços). Eu só pensava no meu primeiro siso, meu primeiro filhote. Queria levá-lo para casa, pôr num vidrinho de formol ou fazer um chaveiro com ele. Seria o meu amuleto.
Tudo correu muito bem, e rápido demais. Quatro sisos arrancados em uma hora, espetacular! Como alegria de pobre dura pouco, as pilhas não agüentaram o baque e acabaram. Mas eis, que do nada, a assistente Luciana traz novas pilhas. Tento abrir um sorriso, mas a minha boca está mole, não sinto patavina. A língua nem se fala. Vira- e- mexe eu engasgava.
O terceiro siso, que estava deitado, foi um sofrimento. O engraçado era que, no exato momento que ele estava para sair, tocava a trilha do Forrest Gump. Mentalmente eu incentivava-o. "Vai dentinho, vai!". E o som de violinos ao fundo, ditando o ritmo, enquanto mais sangue era esguichado.
Após a operação, eu fiquei com a cara muito inchada, cuspia sangue pra caramba! Meu rosto ficou enorme, parecia o Fofão. Entupi a cara de sorvete, fiquei dias sem dormir direito.
O que mais me entristece foi o sumiço do primeiro siso, o meu filhote. A empregada viu uma trouxinha em cima da mesa de jantar (sim, eu realmente iria fazer um chaveiro com ele) e jogou-a no lixo. Tadinho, ele era tão bonito, grandão, mostrava opulência.
Já tinha até nome: Josué.
- Gustavo, pode entrar.
Três segundos e já ouço do dentista:
- Que raios é este diskman em suas mãos?
Respondo:
- Ah, nem a pau que vou ouvir tu serrar os meus dentes!
Ele ri:
- Gente, vou até anotar isso. Nunca vi alguém fazer essa coisa!
Pois é, amigos leitores. Eu levei um diskman para a poltrona do dentista. Pensei nisso enquanto tentava dormir. "Pô, genial!". Escolhi um CD com trilhas sonoras orquestradas. Algo bem relaxante. Percebo que o Jango só ri, não acreditando em seu paciente, todo nervoso, ouvindo música.
Recebo as primeiras aplicações de anestesia. Duas ampolas cheias, que maravilha (foram oito no total). "Quando você não sentir o seu queixo é que ela pegou", ouço. Uns dez minutos depois eu toco a minha boca. Não sinto nada. Passa pela minha cabeça colocar um piercing no lábio (sei lá o motivo). Ele anuncia: "Vamos começar".
Enquanto ele pede para eu abrir a boca, aperto o play do aparelho. O som é aquela linda entrada de piano de Central do Brasil. Fecho os olhos e imagino o Josué de mãos dadas com a Fernanda Montenegro, que tenta dar uma cantada no caminhoneiro. Enquanto minha gengiva é aberta, parece que estou em outra dimensão (olha a anestesia dando uns baratos!).
Não ouço nenhum som externo, apenas a música. Duas faixas depois vêm um barulho de arrepiar. "Tsuiiiin". Abro o olho-direito e só vejo uns pontinhos de sangue no avental do Jango. Sai uma pequena fumaça, que medo! Em um "momento Tarantino", algumas esguichadas de meu sangue jorram nas lentes dos óculos do dentista. Sensacional é a trilha que envolve o meu primeiro siso a ser extraído: aquela musiquinha do E.T, a da famosa cena da bicicleta e da lua. Estou lá, deitado e sangrando às pampas, e aquela música tão amorosa...
Com um tipo de alicate ele me mostra o objeto. "Vai ter rabo assim no inferno! Olha o tamanho da porra!". É genial ter um dentista com um linguajar tão coloquial. Vejo uma coisinha pequena, branca, envolta de sangue. Sinto um carinho pelo meu dente, algo maternal, sabe? O segundo siso arrancado, apesar de todas as complicações em torno dele, não era tão bonito quanto (também ele foi quebrado em trocentos pedaços). Eu só pensava no meu primeiro siso, meu primeiro filhote. Queria levá-lo para casa, pôr num vidrinho de formol ou fazer um chaveiro com ele. Seria o meu amuleto.
Tudo correu muito bem, e rápido demais. Quatro sisos arrancados em uma hora, espetacular! Como alegria de pobre dura pouco, as pilhas não agüentaram o baque e acabaram. Mas eis, que do nada, a assistente Luciana traz novas pilhas. Tento abrir um sorriso, mas a minha boca está mole, não sinto patavina. A língua nem se fala. Vira- e- mexe eu engasgava.
O terceiro siso, que estava deitado, foi um sofrimento. O engraçado era que, no exato momento que ele estava para sair, tocava a trilha do Forrest Gump. Mentalmente eu incentivava-o. "Vai dentinho, vai!". E o som de violinos ao fundo, ditando o ritmo, enquanto mais sangue era esguichado.
Após a operação, eu fiquei com a cara muito inchada, cuspia sangue pra caramba! Meu rosto ficou enorme, parecia o Fofão. Entupi a cara de sorvete, fiquei dias sem dormir direito.
O que mais me entristece foi o sumiço do primeiro siso, o meu filhote. A empregada viu uma trouxinha em cima da mesa de jantar (sim, eu realmente iria fazer um chaveiro com ele) e jogou-a no lixo. Tadinho, ele era tão bonito, grandão, mostrava opulência.
Já tinha até nome: Josué.
Um comentário:
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA adorei sua história , faço faculdade de odontologia e recomendarei aos meu pacientes de cirurgia a levarem diskman , Ipod , mp3 e tudo mais. Beijos :D
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