Desde pirralho, eu nunca fui com a cara do cuco da minha avó. Marrom escuro, aparência muito velha e, o principal: tinha um passarinho pra lá de escroto. O passarinho do cuco da minha avó parece que voltou da guerra: todo estrupiado, magrinho, feio que dói. Deve ter sido esculpido por um menino de 6 anos.
O cuco da minha avó foi, e é, a coqueluche da criançada. Meus priminhos adoravam aquela obra rústica no canto da parede, assim como o bebê da vizinha. Eu sempre o achei horroroso. Como a casa era antiga, considerava tal objeto como parte de uma decoração, sem significado algum. Ledo engano. Aquele cuco faz parte da família; a minha nona se livra até dos netos, mas suplica para o maldito cuco continuar a nos atazanar com aqueles tic-tac de seus gongos.
Certa vez eu puxei a cordinha dele. Parou de funcionar. Celebrei com um sorriso à façanha: eu matara o pássaro. Ele nunca mais sairia da porta da casinha, eu nunca mais ouviria aquele canto agudo dos infernos, eu nunca... CUCO! CUUUUUUCO! O danado ressuscitara.
Hoje, ele continua vivo, persistindo em "decorar" o apartamento de minha avó. Aquele relógio não combina com nada da sala, mas ele continua lá, intocável em seu canto. Já descobri como pára-lo: basta segurar os gongos que contam os segundos. Pena que o passarinho só entra em coma, nunca morre - sempre dá um jeito de acordar.
De tão mimado, só deixa de "cucar" quando estamos dormindo (sim, o cuco é considerado gente por vovó). Dorme no mesmo horário que eu, acorda idem.
O cuco é o seu neto mais querido.
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