25 de out. de 2004

Como traumatizar uma pessoa


É batata, podem acreditar: nenhuma criança terá o presente que tanto sonhou na vida. Isso foi na época de nossos papais e mamães, de nossos avós e em nossos tempos. Por isso repito: nenhum guri ou guria terá o presente tão sonhado e pedido.

Conheço certas pessoas que são recalcadas por nunca terem tido um videogame. Neca, nenhum. Um amigo, certa vez me confidenciou que era louco por um par de patins caríssimos (aqueles rollerblades maravilhosos). Está até hoje esperando de seus pais tal mimo. A época do pônei marcou legal. A garotada pirava naquela amostra grátis horrível de cavalo. Todo aniversário era a mesma coisa: o moleque corria para o jardim e via um pônei marrom, com um laço azul no topete. "Ganhei um pônei, que legal!", suspirava o filhote. O pai, meio sem jeito, coçava a nuca e acabava com as esperanças do pivete: "É, filho... Papai não teve dinheiro esse ano... Este pônei é do buffet...".

Eu nunca liguei para mini-cavalos, patinetes ou mansões da Barbie (ainda bem, hein!). Eu curtia mesmo era uma bateria. Grandona, daquelas que na primeira bumbada a polícia já era acionada por algum vizinho. Todo aniversário eu sonhava com a minha batera. Via-me tocando "We Will Rock You" e "That Thing You Do", seria popular entre as meninas, meu desejo era ser um rock star. Daí eu acordava e me deparava com a mavilhosa coleção de cuecas e meias da Lupo, que a minha querida tia-avó insistia em me dar todo aniversário.

Até no vestibular eu fiz promessa. Se passasse, deveria ganhar uma bateria. Não deu certo. Tentei argumentar que alguns pais chegam a dar carros aos filhos quando passam nas faculdades almejadas. A resposta ouvida? Que eu trocasse de pais. Nunca, mais nunca eu convenci a mama de me dar uma bateria. Papai já era outra história; também era fã de um batuque. Ele é daqueles que tiram um som do volante a cada semáforo vermelho. Bate com o dedo aqui, batuca acolá. Sempre no compasso da batida do rádio.

Pessoas frustradas por não terem uma bateria aderem ao air-drumming. No Orkut, descobri que existem outros traumatizados como eu. Trocamos experiências e fazemos até uma set list de nossas músicas prediletas. "Supersonic" do Oasis é a minha do coração - depois de qualquer uma do Queen, lógico.

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