6 de ago. de 2004

Um caipira na Paulista


O ápice de minha estada em São Paulo aconteceu hoje, em pleno horário de almoço, em plena Avenida Paulista. Estava eu, no ponto de ônibus em frente ao Conjunto Nacional, esperando a minha condução. Olha pra lá, procuro algum ônibus laranja, observo algumas pessoas, faço algum passos de dança sem sair do lugar e cutucam o meu ombro. Viro.

- Olá, moço! Aqui por acaso passa o (ônibus) Barra Funda?
- Opa! Passa sim! , disse numa rapidez, um quase reflexo do meu cérebro.

Continuei a minha dança imaginária e dei uma refletida. Cacete! , pensei. Estou ajudando alguém a se achar em São Paulo! Um singelo soco no ar foi a minha contida comemoração. O quê? O pé de barro aqui dando uma de guia na capital? Ah, que maravilha! Na empolgação, fui ajudando tanto, que só faltava eu estar usando uma batina. Voltei-me ao senhor que pedira a informação e continuei.

- Oi! O senhor que ir apenas para a Barra Funda?
- Hein? Como?
- O senhor vai só pra Barra Funda?
- Não... Eu vou até a Cardoso (de Almeida).
- Ah, legal. Pois o senhor saiba, que além do Barra Funda, os ônibus Edu Chaves e Vila Brasilandia fazem o mesmo trajeto do Barra Funda.
- Poxa... Obrigado mesmo. Estou grato pela explicação.

Dei um tremendo sorriso de "Qualé, tio! O garoto aqui manja, dá licença?!". Mal olhei para a avenida e recebo um leve cutucão no ombro esquerdo.

- É... Não pude deixar de ouvir a sua conversa, e já que o senhor é tão educado, você me dizer qual o ônibus que passa pela Cerro Corá?

Não acreditei. O que estava acontecendo com o mundo? O irônico é que eu também sabia dar a informação para a senhora. Com uma ereção moral, respondi:

- O Parque Continental e o Rio Pequeno passam. Eles passam direto por aqui.

A mulher me fitou com uma satisfação tremenda. No mínimo pensou "Nossa, taí um tremendo paulistano que conhece a cidade inteira!". Confesso que também comecei a me achar assim. Quem sabe os dois senhores não lembrem algum dia daquele garoto de cabelo vermelho e bagunçado, que sabia tudo de São Paulo? Quem sabe?

Mal sabem eles a farsa que apliquei. Conheço o trajeto dos ônibus da primeira informação, pois estudo, coincidentemente, na rua paralela a Cardoso de Almeida. Já no segundo caso, os ônibus aos quais eu me referi, são exatamente os mesmos que pego para poder chegar em casa. Dei uma sorte tremenda.

Mas que o caipirão aqui se sentiu a última bolacha do pacote, ah, isso ele sentiu. E gostou, tá?


** Gustavo, apesar de tudo, é paulistano. Odeia quando o chamam de pé de barro, pé vermelho e caipira. Ninguém perdoa a fato dele ter morado 14 anos no interior paulista.

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