Minha véia
Eita mulher arretada! Sempre quis independência, não depender dos outros. Mandona, chata e engraçada. Eita mulher estranha! Mas muito, muito cativante. Quem a conhece, logo fica fã. Também, fala mais do que deve. Tagarela e tagarela. Quando o telefone está ocupado, pode apostar que é dona Miriam conversando com alguém. E este alguém, às vezes, é os meus amigos. Tenho a leve impressão que eles gostam mais dela do que de mim. Até para as plantas ela dá bom-dia.
Nunca larga do meu pé, até quando fazia exercícios. Enquanto nadava, ela estava do outro lado da piscina, fazendo hidroginástica. E quando eu jogava tênis? Batia uma bolinha na quadra ao lado. Na academia não foi diferente; chegava a ir com maior freqüência do que eu. Adora se manter em forma, porém é chegada numa guloseima. No almoço, comida, na janta, lanche. É assim até hoje. Adora uma padaria, está sempre a comprar novos pãezinhos e petiscos. Depois fica choramingando que não consegue emagrecer, lendo sua “Boa Forma”; revista que compra religiosamente todos os meses.
Moderninha, nunca pude vê-la sem aquele famigerado cabelo curtinho. “Quando você vai deixar o cabelo crescer?”, perguntava. Recebia um sorriso e a promessa de quem um dia isso vai acontecer. Espero por esse dia até hoje. Adora um cabeleireiro, como gosta. Seu cabelo nunca fica da mesma cor. Mechas ruivas, loiras... Teve uma vez que o seu cabelo ficou tão vermelho, que logo a chamei de Pica-Pau. Ficou uma fera.
Não consigo mentir para ela. Quando tirava notas vermelhas (algo bem comum, digamos), dona Miriam se enfurecia. Na escola, o diretor morria de medo dela. Quando via aquela mulher de cabelo curtinho, óculos escuros, e elegante, já vinha a premissa de que eu havia ido mal em alguma prova. Xingava os professores, clamava para eu não ficar na turminha do fundão. Dos seus sermões não esqueço tão cedo. Nem o diretor.
Ah, mama. Parabéns, minha véia! Continue a encher a minha paciência e a me dar aquele beijinho de boa-noite enquanto estou dormindo. Parabéns, minha véia.
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