4 de mai. de 2004

A minha solução


Cara, eu tenho nojo do ser humano. Matamo-nos por qualquer motivo, virou uma lei do mais forte. Briga e morte por futebol. Mata-se por um bando de milionários que nem ligam para o que achamos e torcemos. Um estudante corinthiano morreu após uma briga com torcedores palmeirenses na estação da Barra Funda. Idade do garoto: 16anos. A mãe do menino – sim, menino – conta que o seu filho havia conseguido o primeiro emprego, recebido o primeiro salário. Poxa; deve ser uma alegria indescritível. Decidiu gastar um pouco de seu salário assistindo a uma partida de futebol - paixão de muitos, como eu. Enquanto pegava o trem (simples, humilde, sem carro), foi espancado por torcedores rivais. Tenho nojo do brasileiro.

Ouvi histórias de que não somos preconceituosos, no Brasil é pura harmonia. Seria mesmo? O ator Leandro Firmino da Hora (“Zé Pequeno, porra!”) levou uma “prensa” de um segurança enquanto sacava dinheiro no caixa eletrônico. Adivinhemos o motivo? Um rapaz deu um beijo no namorado num shopping e foi repreendido (leia-se expulso) pelo segurança. O galã da Rede Globo teve seu contrato com uma rede de iogurtes reincidido, apenas por ser flagrado ao comprar algumas gramas de maconha. A jornalista Soninha foi expulsa de uma emissora televisa por ter admitido numa revista que relaxava algumas vezes fumando o seu baseado. Eu admirava esta rede de televisão. Admirava.

Engraçado, é que quando se pensa num povo hipócrita, neguinho já aponta pra Terra do Bush. Olhemos para o nosso umbigo, pátria amada! Até no carnaval, onde tudo é liberado (dizem) há censura. Joãozinho Trinta que o diga. O instrutor que me dava aulas práticas de direção, ao ver dois “neguinhos” brincando na rua, disse em tom jocoso; “Atropela esta raça maldita!”. Meu avô é mulato. No outro dia eu troquei de instrutor. Não é por ter “um pé na cozinha” que me senti constrangido. Qualquer pessoa serena teria tido a mesma reação.

Fico aqui mirabolando, imaginando soluções e mais soluções. Sou pessimista. Os big guys um dia irão brigar feio. Alguém enfiará a bola debaixo do braço e dirá que não quer mais brincar. Prepotência, arrogância; são tantos os “adjetivos”. Num futuro não muito próximo, tudo irá pelos ares. Formará aquele cogumelo de fumaça lindo. Daí penso que começaremos tudo de novo. E acabaremos da mesma maneira.

Enquanto estou vivo, tendo sorte de estar muito feliz, procurando escrever o que sinto. Quero que a escrita possa ajudar alguém. Outro dia, uma garota da minha classe disse que não parava de rir ao ler um texto meu. Talvez por isso que eu tenha vindo para este mundinho: fazer os outros rirem e esquecerem da vida, mesmo que seja apenas por alguns minutos, segundos ou milésimos. Achei a solução. A minha solução.

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