A coisa mais chata que você ganha em época de Copa do Mundo são aquelas tabelinhas de bolso para você marcar com caneta os placares das partidas. Você vai abastecer o carro? O posto t dá uma. Comprar remédio? A farmácia também dá. Incrível como qualquer lugar do mundo tem essas tabelinhas de "brinde".
Outro dia, a caixa da padaria não tinha vinte centavos de troco para mim. "Não faz mal", disse. "Aceito duas balinhas e boa."
"Ah, não pode ser uma tabelinha da Copa para você acompanhar as partidas?", ouvi como resposta.
Grunhi de raiva.
Pelo os meus cálculos, ganhei mais de 30 dessas lembrancinhas. Jamais levava para casa apenas uma, ganhava umas cinco de uma tacada só. "A família vai torcer juntinho", brincou o jornaleiro.
Há duas semanas, enquanto entrava com a namorada no prédio dela, o porteiro veio todo alegre. "Opa, Gustavo! Presente", disse Seu Domingos, com cinco tabelinhas na palma de sua mão.
"Já tenho essa, mas brigado, hein!", respondi, passando reto pela cara de tacho dele. Levei um baita esporro da Bem-Amada. "Mas você não tem educação mesmo!"
Nem no email eu fiquei salvo! Dois amigos meus indicaram uma tabelinha virtual que marcava os resultados e até combinava sozinha as partidas das fases finais. Ignorei.
Politicamente correto, coloquei todas para reciclar. A única tabelinha que eu preencho, religiosamente de quatro em quatro anos, é a quem vem no álbum de figurinhas da Copa (aliás, faltam só duas para eu terminar: escudos de Togo e México - vamos fazer negócios, pessoal!).
Mas, pura ironia do destino, agora de madrugada, enquanto durmo, notei que eu não sabia qual seria o jogo de hoje. Só sei que joga a Alemanha e a Argentina, mas nem imagino o horário. Fui obrigado a sair do quentinho do edredom, ligar a Internet, apenas para ver a que horas rolava a peleja - estou em Sorocaba e o álbum ficou em São Paulo...
Na próxima Copa, juro que guardo pelo menos uma dessas tabelinhas.