Personagens de uma notícia de jornal
- Ai, meu Deus!
Mal tive tempo de levantar os olhos para ouvir o grito do motorista. Logo em seguida, o ônibus foi jogado para a esquerda, movimento este seguido de uma freada brusca. Os pneus cantaram, uma mulher que passava pela roleta caiu. Som de uma pancada forte e vidro estilhaçando.
- Cuidado, droga! Ela está grávida! - grita alguém no fundo.
O cobrador pula a catraca e pergunta se está tudo bem com ela. Ela responde que sim, mexendo a cabeça, enquanto põe uma de suas mãos na barriga e ajoelha. O motorista já está na calçada, fita o chão e ouve uma garota berrando e gesticulando muito.
Ela está tão nervosa que dá para ver suas mãos tremendo, enquanto ela guarda o celular na bolsa. Levanto, dou um pulo e vejo alguém estirado. Atropelado. O impacto foi tamanho que o cara - parecia um moleque de rua - foi atirado há uns cinco metros de distância do ônibus.
Todos descem do ônibus. Alguns apressados vão até o ponto mais próximo, outros não escondem a curiosidade fazem uma rodinha em torno do motorista, a mulher nervosa e o atropelado. Um, dois, três motoboys encostam suas motos e vêem a cena. Não consigo pensar direito, e me vejo, sem notar, que estou no meio daquelas pessoas.
O atropelado, um garoto, não se mexe. Será que ele está morto? Jamais vi alguém morto antes. Quando meu avô foi embora, preferi ficar do lado de fora do velório, pois não tive coragem de vê-lo deitado e sem vida. Meu tio tentava me arrastar, dizendo que aquilo fazia parte da vida. Ignorei-o. Sempre quis ter a imagem de meu avô como alguém feliz e ativo. E tinha certeza que vê-lo morto não era a última imagem que desejava ter dele.
Todas as pessoas ficam em silêncio. O atropelado mexe o braço, solta um resmungo. Um outro menino de rua segura a sua cabeça e passa os dedos em seu cabelo. Um som de sirene é ouvido bem de longe. Olho o relógio e vejo que estou atrasado para o trabalho. Não quero mais ver aquela cena.
Entro em outro ônibus e, quando passo novamente pelo lugar, já vejo dois carros da polícia. Bato uma foto com o meu celular.
No dia seguinte, ao ler o jornal, descubro a verdadeira história. O atropelado tem 14 anos, e junto de mais três amigos costumava assaltar pessoas que esperavam o semáforo abrir. Ele roubou o celular da mulher nervosa que berrava e tremia muito, e fugiu cruzando a avenida com o farol vermelho para pedestres. O ônibus não conseguiu frear e o atropelou. O menino que passava as mãos em seu cabelo fugiu assim que a viatura policial chegou.
O atropelado está internado em estado grave. A mulher teve o seu celular de volta. A grávida não perdeu o bebê.
- Ai, meu Deus!
Mal tive tempo de levantar os olhos para ouvir o grito do motorista. Logo em seguida, o ônibus foi jogado para a esquerda, movimento este seguido de uma freada brusca. Os pneus cantaram, uma mulher que passava pela roleta caiu. Som de uma pancada forte e vidro estilhaçando.
- Cuidado, droga! Ela está grávida! - grita alguém no fundo.
O cobrador pula a catraca e pergunta se está tudo bem com ela. Ela responde que sim, mexendo a cabeça, enquanto põe uma de suas mãos na barriga e ajoelha. O motorista já está na calçada, fita o chão e ouve uma garota berrando e gesticulando muito.
Ela está tão nervosa que dá para ver suas mãos tremendo, enquanto ela guarda o celular na bolsa. Levanto, dou um pulo e vejo alguém estirado. Atropelado. O impacto foi tamanho que o cara - parecia um moleque de rua - foi atirado há uns cinco metros de distância do ônibus.
Todos descem do ônibus. Alguns apressados vão até o ponto mais próximo, outros não escondem a curiosidade fazem uma rodinha em torno do motorista, a mulher nervosa e o atropelado. Um, dois, três motoboys encostam suas motos e vêem a cena. Não consigo pensar direito, e me vejo, sem notar, que estou no meio daquelas pessoas.
O atropelado, um garoto, não se mexe. Será que ele está morto? Jamais vi alguém morto antes. Quando meu avô foi embora, preferi ficar do lado de fora do velório, pois não tive coragem de vê-lo deitado e sem vida. Meu tio tentava me arrastar, dizendo que aquilo fazia parte da vida. Ignorei-o. Sempre quis ter a imagem de meu avô como alguém feliz e ativo. E tinha certeza que vê-lo morto não era a última imagem que desejava ter dele.
Todas as pessoas ficam em silêncio. O atropelado mexe o braço, solta um resmungo. Um outro menino de rua segura a sua cabeça e passa os dedos em seu cabelo. Um som de sirene é ouvido bem de longe. Olho o relógio e vejo que estou atrasado para o trabalho. Não quero mais ver aquela cena.
Entro em outro ônibus e, quando passo novamente pelo lugar, já vejo dois carros da polícia. Bato uma foto com o meu celular.
No dia seguinte, ao ler o jornal, descubro a verdadeira história. O atropelado tem 14 anos, e junto de mais três amigos costumava assaltar pessoas que esperavam o semáforo abrir. Ele roubou o celular da mulher nervosa que berrava e tremia muito, e fugiu cruzando a avenida com o farol vermelho para pedestres. O ônibus não conseguiu frear e o atropelou. O menino que passava as mãos em seu cabelo fugiu assim que a viatura policial chegou.
O atropelado está internado em estado grave. A mulher teve o seu celular de volta. A grávida não perdeu o bebê.